No último Newsletter cometamos sobe a atuação do carbono inorgânico, em sua principal forma: o Gás Carbônico / CO2. Neste artigo, finalizaremos sobre as moléculas que estão no rol do topo das que causam eutrofização nos lagos e comentaremos sobre o carbono orgânico.
Há nos corpos d´água diferentes tipos de carbono orgânico, e eles são agrupados em duas principais categorias: o carbono orgânico detrital (COD) e o carbono orgânico particulado da biota (COP). O conjunto de ambos é denominado carbono orgânico total (COT). Para simplificarmos, comentaremos sobre o COT sem distinguir o COD e COP. O COT é um ótimo parâmetro utilizado para se avaliar a contaminação da água, conceder registro de validação de águas puras utilizadas em indústrias farmacêuticas, entre outras situações. Também, o COT é útil para avaliar as águas de rios, represas e águas subterrâneas enviadas para estações de tratamento de água e, posteriormente, para abastecimento da população (Esteves, 1998)
A origem do COT nos corpos d´água ocorre principalmente pela decomposição dos organismos, isto é, pelos vegetais e animais que morrem. Também, origina-se dos produtos de excreção dos animais que são compostos de carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas. Sendo assim, no caso de nossos lagos, é importante atentar que a quantidade de COT na água está diretamente relacionada com a quantidade de arraçoamento realizado, que é a quantidade de vezes que os peixes são alimentados. Logicamente, somado a isto, o COT também está relacionado com o volume de ração que oferecemos aos peixes e a qualidade dela também, afinal quanto mais alimento fornecido mais fezes são excretadas. De certa forma, o resultado da grande concentração do COT em nossos lagos e tanques é visualmente perceptível através de um pequeno “pó” seja no fundo dele deles ou na coluna d´água, o que nada mais é que fezes dos peixes que ali se encontram. Para que isto não ocorra, recomenda-se uma otimizada movimentação na água que transportará o COT para o sistema de filtragem mecânico biológico e evitará seu acúmulo ao longo do lago.
Algumas moléculas que compõem o COT possuem uma propriedade física peculiar que é a de fotoativas. Tal propriedade torna-as capazes de absorver a luz do sol ou mesmo a luz artificial. Isto resulta em uma alteração na coloração da água, deixando-a de ser translúcida / transparente e tornando-a, principalmente, num amarelado (Waksman, 1936). Esta coloração é promovida por certos compostos denominados de húmicos, cuja palavra é um adjetivo derivado do substantivo conhecido húmus, que é a matéria orgânica resultante da decomposição de animais e vegetais mortos por microrganismos e que são utilizados na agricultura, pomares, hortas, etc. Estes compostos são constituídos de uma grande variedade de ácidos incluindo os ácidos fúlvicos, húmicos e a humina. Devido estes compostos não serem hidrolizáveis, isto é, não serem facilmente degradados na água, eles permanecem na coluna d´água ou no fundo dos tanques e resultam na coloração amarelada citada, quando em alta concentração (Bukata, 1995).
Outra desvantagem da presença do COT na água de lagos ornamentais é que tais compostos são fonte de energia para a proliferação de bactérias e algas cianofíceas. Como já vimos em outros artigos, uma quantidade descontrolada de bactérias na água é um fator preocupante, pois pode esgotar mais facilmente o oxigênio dissolvido pela própria respiração aeróbica das bactérias, tornando a água hipóxica (com baixa concentração de oxigênio) ou até mesmo anóxica (0% de saturação de oxigênio na água), o que prejudicará a respiração dos peixes; além disso, uma alta concentração de bactérias no lago pode aumentar a chance dos peixes de absorvê-las, tanto através da respiração pelas brânquias ou mesmo pela alimentação. Logicamente, neste caso, se os animais não estiverem com um sistema imunológico “forte”, eles podem sofrer de infecções bacterianas (que causam feridas ao longo do corpo) e precisarão de tratamento adequado. Somado a isto, uma alta concentração de COT na água pode aumentar a quantidade de algas cianofíceas. Isto é outro caso muito preocupante, pois além destas algas respirarem o oxigênio da água durante a noite (fase escura da fotossíntese) deixando-a hipóxica também, muitas espécies liberam substâncias tóxicas na água e deixam a água com odor (Panosso et al., 2007). Apesar das toxinas excretadas não afetarem os peixes, elas acumulam-se em seus organismos e podem causar a morte de quem os consumir, sendo de extrema importância sua eliminação em sistema de piscicultura. Por fim, em lugares como sítios e fazendas que possuem açudes com água parada e esverdeada de cianofíceas, tais toxinas podem até levar da morte de alguns animais que se hidratarem dessa água, como cavalos e rebanhos bovinos, etc.
Enfim, aqui terminamos sobre as principais moléculas no rol do topo das que causam eutrofização nos lagos: Nitrito / Nitrato, Fosfato, Carbono inorgânico e inorgânico. De forma resumida e prática, podemos afirmar que os seguintes passos manterão seu lago praticamente livre delas:
- Ótima movimentação da água do lago para não permitir que tais moléculas acumulem-se no lago, mas sejam enviadas para o filtro;
- Ótimo sistema de filtragem mecânico, a fim de reter as moléculas de maior diâmetro, não as permitindo voltar para o lago;
- Ótimo sistema de filtragem biológico, contendo bactérias importantes que degradarão algumas destas moléculas retirando-as da água;
- Ótimo sistema de filtragem químico, contendo carvão ativado e zeólita para retirar moléculas microscópicas e que são tóxicas para os peixes.
Bibliografia
Bukata, R. P. J.; Jerome, J. H.; Kondratyev, A. S.; Pozdnyakov, D. V. (1995). Optical properties and remote sensing of inland and coastal waters. Boca Taton, Florida: CRC Press LLC.
Esteves, F. A. (1998). Fundamentos de Limnologia. 2° Edição. Rio de Janeiro, RJ: Interciência.
Panosso, R.; Costa, I. A. S.; Souza, N. R.; Attayde, J. L.; Cunha, S. R. S.; Gomes, F. C. F. (2007). Cianobactérias e cianotoxinas em reservatórios do estado do Rio Grande do Norte e o potencial controle das florações pela tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Oecol. Bras., 11 (3): 433-449.
Waksman, S. A. (1936). Humus. Origin, chemical composition and importance in nature. The Williams & Wilkins Company, Baltimore – USA.
Thiago de Campos Belão é Biólogo, mestre e doutor em Ciências Fisiológicas pela UFSCar. Especializou-se em fisiologia animal com enfase em peixes tropicais e, principalmente, nas áreas de comportamento animal, metabolismo, toxicologia e nos sistemas cardiovascular, respiratório e nervoso central e periférico.