Alimentação dos peixes

Ração para carpas e a nutrição de peixes ornamentais

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Os seres humanos e os animais, ao longo de milhares de anos, sentiram a necessidade de aproximação. Essa aproximação foi devida a curiosidade, a beleza, à convivência em mesmas áreas na disputa por abrigo e alimento. No caso dos peixes ornamentais não foi diferente. A possibilidade de termos essa aproximação com os peixes, nos levou a desenvolver a ração para carpas conhecida nos dias de hoje. A correta alimentação das carpas e a escolha certa da ração, é um dos fatores decisivos para o sucesso de um lago ornamental e o bom desenvolvimento dos peixes.

A origem dos animais de estimação

Muitos animais se aproximavam dos homens devido à facilidade de conseguir alimentos tanto de origem animal como de origem vegetal. Alimentos de origem animal como partes de peles, ossos e alguns órgãos internos. De origem vegetal como, sementes, fibras e cascas não comestíveis por humanos, mas facilmente consumida por animais. Em consequência desta aproximação natural os humanos começaram a domesticar os animais tanto para criação quanto para companhia.

Os peixes ornamentais

Da mesma forma, ao redor de cinquenta anos, ocorreu um enorme crescimento na domesticação de peixes ornamentais, nem tanto para a companhia em si destes animais, mas para demonstração de singularidade de formas e cores, atingindo uma popularidade generalizada deste hobby.

Tal como os principais animais de companhia (cães e gatos) alguns tópicos que auxiliaram na evolução na criação de peixes ornamentais, são os fatores bem-sucedidos na criação de peixes em todo o mundo e o desenvolvimento de alimentos manufaturados como a ração para carpas. Embora a manutenção de peixes ornamentais seja muito popular, as exigências nutricionais desses animais continuam sendo uma das áreas menos exploradas de nutrição para animais de estimação.

Os peixes ornamentais tradicionalmente foram alimentados com alimentos vivos ou naturais, que muitas vezes são deficientes e podem causar doenças e distúrbios nutricionais se não forem armazenados adequadamente. A maior aceitação e dependência dos alimentos manufaturados para peixes ornamentais surgiu com a necessidade de reprodução em cativeiro das principais espécies, a longevidade dos peixes, as competições e ao atendimento nutricional gerado pelas pesquisas realizadas pela indústria da aquicultura.

Manutenção energética

Os peixes ornamentais são pecilotérmicos, seus requisitos de energia de manutenção são adaptados às mudanças na temperatura da água. Para a carpa koi de lagos de jardins a necessidade diária de energia de manutenção praticamente dobra quando a temperatura da água aumenta de 10°C para 20°C. Esta é uma consideração importante ao planejar a alimentação dos peixes durante as diferentes estações.

Do final do outono até o início da primavera, a carpa koi praticamente para de se alimentar quando a temperatura da água atinge 5°C ou menos. Nessas condições, seu metabolismo é reduzido a um nível de hibernação. Os peixes sobrevivem usando seus depósitos de gordura e proteína até a temperatura da água subir de novo na primavera. Em contraste com os mamíferos, os peixes mobilizam muito pouco glicogênio como um substrato energético. É vital preparar as carpas koi e demais peixes de lagos de jardins para a hibernação no inverno, alimentando-os com um nível mais elevado de energia digestível no final do verão e no outono.

No Brasil, por termos um clima muito quente em algumas regiões e muito frios em outras, devemos observar a característica do local para saber as necessidades necessárias da ração para carpas. No mercado brasileiro, a grande maioria das rações para carpas não prevem essa subdivisão de estações do ano, já que a maioria dos lagos ornamentais se encontram em regiões mais quentes.

Proteína

Ao contrário dos peixes selvagens, que vivem em grandes sistemas de água, os peixes ornamentais cativos precisam usar sua proteína dietética com a máxima eficiência. Os produtos de degradação do metabolismo das proteínas poluem diretamente o ambiente.

Desta forma, recomenda-se uma ração para carpas balanceada, com teores proteicos adequados às espécies. Isso não significa que um produto com alto teor de proteína seja o melhor para os peixes ornamentais. Devemos levar em consideração o teor de proteína e a qualidade da proteína. isto é, de que forma esta proteína será absorvida pelos peixes.

A proteína não absorvida pelos peixes se transformará em amônia que será convertida rapidamente em sua forma ionizada, amônia (NH4 +), a pH 7,2. Tanto a amônia como o amônio são tóxicos para os peixes. Em um filtro de aquário maduro, colônias de bactérias nitrificantes podem metabolizar amônia e amônio em outra substância tóxica, o nitrito (NO2), que é tóxico a 1 ppm. Um grupo diferente de bactérias, em seguida, metaboliza nitrito em nitrato (NO3), que tem baixa toxicidade para peixes.

As bactérias no filtro desempenham assim um papel muito importante no controle da poluição do tanque pelos metabólitos nitrogenados. O nitrato torna-se um fator de estresse para peixes em níveis superiores a 100 ppm em água doce e 50 ppm em sistemas marinhos. As algas no tanque podem usar nitrato e, portanto, fazem parte do filtro biológico.

Gordura

Os peixes tem uma baixa demanda de energia e, portanto, deve-se reduzir os níveis de gordura na dieta para menos de 15% para evitar a deposição de gordura excessiva. No entanto, o papel da gordura como transportador de vitaminas lipossolúveis não deve ser esquecido.

Para prevenir a deficiência de ácidos graxos essenciais é necessário fazer a suplementação de ácido linolênico (n-3) e ácido linoléico (n-6). Os peixes em geral requerem ácidos graxos com maior comprimento de cadeia e maior grau de insaturação do que os mamíferos. Apresentam temperatura corporal mais baixa do que os mamíferos e os ácidos graxos com baixos pontos de fusão são necessários para suportar a flexibilidade da membrana celular em baixas temperaturas da água. Dependendo da temperatura ambiente, da salinidade e do estágio da vida, os ácidos graxos essenciais precisam ser complementados em uma proporção diferente de n-3 para n-6 na dieta. Entre 5 e 10°C, a proporção n-3 / n-6 é próxima de 2.0, enquanto a 15 a 20°C, reduz a 0,5.

O alto requisito para os ácidos graxos n-3 a baixas temperaturas deve receber atenção adequada na formulação de dietas para peixes que vivem em ambientes com águas frias, como lagos e aquários (sem termostato). A deficiência dietética de ácidos graxos essenciais provoca aumento da mortalidade. Provoca também, erosão das barbatanas e uma “síndrome de choque” em que o peixe perde o controle nervoso de seus músculos, torna-se rígido e nada de forma errática contra o lado do tanque ou lago. Não é recomendado suplementar a dieta de peixes que vivem em águas frias com gordura saturada. Essa gordura pode solidificar e bloquear o trato intestinal. Por isso, mais uma vez, a ração para carpas deve ter uma formulação muito específica e eficiente.

Carboidratos

O carboidrato não é um nutriente essencial para peixes, mas os carboidratos são encontrados em águas com plantas aquáticas e algas. A maioria dos peixes herbívoros desenvolveram adaptações fisiológicas, como comprimento do intestino longo, promovendo a digestão microbiana dos carboidratos. Alguns peixes herbívoros e onívoros, como o peixe dourado e a carpa koi, utilizam a microflora intestinal para digerir os carboidratos complexos. Portanto, dependendo das condições ambientais, a digestão de carboidratos pode variar entre as diversas espécies de peixes e até mesmo entre peixes da mesma espécie.

Minerais e vitaminas na ração para carpas

Os peixes ornamentais necessitam de minerais para seu metabolismo, como formação de ossos e hemoglobina, regulação do pH, função hormonal e enzimática. Ao contrário dos animais de estimação terrestres, os peixes ornamentais podem absorver alguns minerais solúveis em água da água. No entanto, como a composição mineral da água é bastante variável, recomenda-se a suplementação destes nutrientes na dieta evitando a deficiência nos peixes criados em lagos e aquários. A ração para carpas deve contar um equilíbrio preciso entre minerais e vitaminas importantes.

Existem várias pesquisas sobre a exigência nutricional de vitaminas para peixes da aquacultura comercial, onde foi estabelecida a exigência de vitaminas para muitas espécies. Porém, não há informações para os peixes ornamentais. Deste modo na formulação de dietas comerciais para peixes ornamentais consideram-se as exigências da aquacultura comercial.

Como os peixes ornamentais têm um acesso limitado ou mesmo sem acesso a alimentos naturais, as vitaminas devem ser fornecidas na dieta.

Carotenóides

Os carotenóides são sintetizados por algumas plantas, microrganismos e algas. São substâncias lipossolúveis que participam no processo de pigmentação da pele e musculatura dos peixes. Atuam como antioxidantes naturais, ajudam a prevenir o estresse e estimulam o sistema imune.

Os peixes não tem capacidade de sintetizá-los e precisam ser suplementados nas dietas.

As fontes naturais de carotenóides são: cenoura, urucum, spirulina, farinha de resíduo de crustáceos, farinha de krill, milho, glúten de milho, pimentas vermelhas e algumas leveduras. As fontes sintéticas são formuladas à base de astaxantina e cantaxantina.

Ração para carpas com densidade nutritiva de alto valor biológico e contendo a proporção correta de energia não digerível não proteica são requeridas para a manutenção de peixes ornamentais em condições saudáveis.

Referências

Fracalossi, D. M.; Cyrino, J.E.P. Nutriaqua: Nutrição e Alimentação de Espécies de Interesse para Aquicultura Brasileira. Ministério da Pesca e Aquicultura, 2012.

Butcher RL (ed) Manual de Peixe Ornamental BSAVA Cheltenham 1992.

National Research Council. Requisitos nutricionais de peixes de água gelada. National Academy Press Washington DC, 1981.

Conselho Nacional de Pesquisa. Requisito Nutricional de Peixes Quentes e Mariscos. National Academy Press Washington DC, 1981.

Steffens W. Princípios da Nutrição dos Peixes, Ellis Horwood Chichester, 1989: 384.

Zuanon, A. S.;  Salaro, A. L.; Furuya, W. M. Produção e nutrição de peixes ornamentais. Revista Brasileira de Zootecnia, 2011.

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