Doenças dos peixes

Doença da Primavera ou Varíola da Carpa (SVC)

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A doença da primavera, varíola da carpa ou em inglês SVC (Spring Viraemia Carp) é uma doença viral que pode atingir as carpas e muitas outras espécies da família dos Cyprinidae. O agente etiológico é chamado de Rhabdovirus carpio, da família Rhabdoviridae. Por ser uma doença viral pode causar 100% de mortalidade. Esta doença é responsável por sérias perdas econômicas, sendo bem difundida na Europa Continental e na Ásia, afetando todas as variações de carpas (comum, espelho, cabeçuda, prateada e koi) e kingios.

Doença da primavera em carpas

Onde a doença da primavera teve seu início?

A doença da primavera foi relatada pela primeira vez na China, e o nome é dado, pois os sinais clínicos começam a surgir no inicio da primavera, quando os animais estão com sistema imunológico debilitado pela baixa temperatura da água no inverno. No início da primavera a temperatura da água aumenta, servindo de gatilho para a proliferação da doença, tornando-se mais grave com temperaturas entre 15 e 17ºC. Caso não seja tratada, a maioria ou todos os peixes poderão morrer rapidamente, muitas vezes em um prazo de uma semana. Importante salientar que apesar de comumente conhecida como doença da primavera, a SVC não se restringe somente à primavera, com números significantes de casos já relatados no outono quando a temperatura diminui.

A forma de acesso do vírus

Uma das formas de acesso do vírus ao hospedeiro é através das brânquias. Posteriormente o mesmo se propaga rapidamente atingindo o fígado, os rins, o baço e as brânquias. O cérebro apresenta menor presença de vírus e o animal infectado pode propagar a virose através da urina, das fezes, do muco branquial e exsudatos de bolhas formadas na pele. Normalmente a transmissão é de forma horizontal, porém ela pode ser de forma vertical, uma vez que o vírus é encontrado em fluido ovariano.

A SVC pode ser transmitida através do piolho d`água (Argulus sp.) e da Sanguessuga (Piscicola Sp.) que, ao se alimentarem do sangue de um animal infectado, se tornam portadores do vírus. Mesmo não contraindo a doença, transmitirão ao parasitarem um animal sadio.

Os sinais clínicos da doença da primavera

Os sinais clínicos variam bastante dependendo do estagio da doença, mas os mais comuns são: escurecimento da pele, “olhos saltados”(pop eye), inchamento abdominal (hidropisia abdominal), descoloração das guelras, protuberância anal, fezes viscosas, úlceras na pele, lesões em nadadeiras, escamas arrepiadas (eriçadas), natação lenta e com dificuldade.

Os peixes infectados se tornam letárgicos, demonstram falta de equilíbrio e podem apresentar áreas de sangramento nos olhos, guelras, pele e órgãos internos. Um ou mais desses sintomas clínicos podem não se desenvolver em qualquer estagio da doença, principalmente nos estágios iniciais ou finais. Normalmente os peixes infectados ficam próximos de uma zona de oxigenação no lago (na entrada da água, queda de cascata, retorno da bomba, etc..). Por ser uma doença viral, os sinais clínicos de infecção secundária por bactérias, preferencialmente Aeromonas (A. salmonicida) ou (A. hydrophila) podem dificultar ou sobressair o correto diagnóstico.

Uma doença sem cura

A doença da primavera (SVC) não tem cura, sendo prevenção e procedência dos peixes a melhor maneira de controlar a doença. Comprar peixes de criadores que comprovadamente tenham peixes livres de SVC é a melhor maneira de evitar a contaminação por peixes que tenham o vírus encubado, causando potencialmente a contaminação de todo o estoque.

Como prevenir?

Como meio de prevenir a doença, rigorosas praticas de higiene são altamente recomendadas. Um destino adequado para água de descarte, assim como a completa desinfecção de equipamentos utilizados na criação contribuem para um ambiente livre da doença da primavera (SVC). O manejo feito de forma com que se reduza o stress por manipulação, juntamente com a desinfecção regular de lagos contribui para que os índices químicos da água não se alterem rapidamente. Mantendo as praticas de higiene corretas e o controle da densidade de estoque, os peixes habitam um ambiente saudável e muito menos propenso a infecções secundarias e ataques de vírus.

O controle da temperatura pode ajudar

Caso exista a possibilidade de controlar a temperatura, é indicado manter a água entre 19 e 20ºC. Quando a temperatura ultrapassa os 20ºC, a doença desaparece e com temperatura acima dos 25ºC os animais param de vir a óbito. É recomendado como tratamento de suporte, aumentar a temperatura do lago. Se não for possível este procedimento, deve-se usar um tanque de quarentena, com a mesma água do lago, que possa manter o controle da temperatura.

O vírus pode ser inativado se mantido em pH 12 por 10 minutos, pH 3 por 3 horas ou por 30 minutos a 60ºC. Alguns desinfetantes que podem ser eficientes na inativação do vírus são: formalina 3% por 5 minutos, hidróxido de sódio a 2% por 10 minutos, 540 mg de cloro em um litro de água por 20 minutos, irradiação U.V. (254 nm) e irradiação gamma (103 krads). Lembrando que todos esses tratamentos são indicados para serem executados sem a presença dos peixes, para preservar sua integridade física.

Durante o inverno, o uso de uma ração de qualidade em conjunto com um multivitamínico pode ser o diferencial entre sofrer com SVC (doença da primavera) e possuir peixes saudáveis que nos trazem tanta alegria. Apesar de afetar todas as espécies de carpa, não existe indicação cientifica que a SVC possa ser uma ameaça para a saúde humana.

Referências:

Alexandrino AC, Tavares Ranzani-Paiva MJ, Romano LA. Identification of spring viraemia in carp Carassius auratus in Sao Paulo, Brazil. Bull Eur Assoc Fish Pathol. 1998; 18:220-224.

Defra. Spring Viraemia of Carp 2010. disponível em: https://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20130702113206/https://www.defra.gov.uk/aahm/files/Guide-SVC.pdf

YANONG, R. P. E, PEIXES DE AQUÁRIO, apud in ATLAS DE MEDICINA, TERAPEUTICA E PATOLOGIA DE ANIMAIS EXÓTICOS, INTERBOOCK, 2006 – SÃO CAETANO DO SUL – SÃO PAULO, PAGS. 81-111

World Organization for Animal Health [OIE]. Manual of diagnostic tests for aquatic animals [online]. Paris: OIE; 2006. General information. Disponível em: https://www.oie.int/international-standard-setting/aquatic-manual/access-online/

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