Quando nos vem à mente a palavra estresse, logo imaginamos algo negativo, que perturba a nossa paz e nos incomoda. Isto tem fundamento, uma vez que o estresse é capaz de literalmente abalar o equilíbrio de nosso corpo. Em 1973, Hans Selye definiu o estresse como “uma resposta não específica do corpo a qualquer demanda feita sobre ele”. Simplificando, o estresse pode ser considerado como um estado de ameaça ao equilíbrio dos organismos, a homeostase. Quando o assunto são os nossos peixes, ficamos muito preocupados com o bem-estar deles. O estresse no peixe é o grande vilão que atormenta a paz de nossos companheiros, e é diretamente influenciado por fatores externos e um dos grande causadores de doenças e mortes nos animais.
Índice
Os estressores são divididos em 3 categorias
Estressores, a fonte do estresse no peixe , podem ser divididos em três diferentes categorias:
- Estressores químicos;
- Estressores físicos;
- Estressores por percepção.
1. Estressores químicos
Os estressores químicos têm relação com os fatores da água, como a presença de algum poluente, baixo nível de oxigênio, pH, cloro, etc. Dependendo da concentração de alguma substância ou alteração de um parâmetro da água, o estresse pode ser tão grande que pode levar nossos peixes à morte em poucos minutos. Por esse motivo é importante sempre saber quais são as características ideais da água para cada espécie, proporcionando um ambiente livre de estressores químicos.
2. Estressores físicos
Estressores físicos são basicamente ocasionados durante o manejo dos animais e manutenção do lago e são difíceis de serem evitados, embora possam ser amenizados. A captura, o confinamento, o transporte dos animais e, em aquários, bater no vidro são exemplos de fonte de estresse físico. O cuidado com o manejo dos animais durante estes momentos, muitas vezes inevitáveis, são formas de manter nossos peixes mais calmos e não elevar tanto o seu nível de estresse.
3, Estressores por percepção
Estressores por percepção são geralmente causados por algum predador ou algo percebido como ameaça. Em lagos pode ser facilmente evitado, bastando manter peixes compatíveis, como somente carpas ou estas com kinguios, por exemplo. Ao adicionar no lago um peixe predador, um bagre por exemplo, os peixes que podem ser predados ficam em constante alerta para evitarem serem devorados. Esse estado de atenção constante gera altos níveis de estresse crônico, que é perigosamente danoso à saúde do estressado.
O estresse no peixe é um grande causador de doenças e mortes
O estresse pode causar diversas alterações no corpo de nossos peixes, desde pequenas mudanças hormonais até completas transformações no animal, como alterações no crescimento, deficiência no sistema imunológico e alterações de comportamento.
Animais estressados tendem a não se alimentarem, o que pode ocasionar desnutrição e déficit de nutrientes. Muitas das vezes que um peixe morre sem que saibamos o motivo, o estresse é o grande culpado. O efeito do tempo também deve ser considerado. Um grande estresse momentâneo muitas vezes é menos danoso que um estresse menor que permanece por muito tempo. Isso ocorre, pois, as pequenas alterações fisiológicas que um estresse causa, podem evoluir para alterações mais severas caso o estressor não seja eliminado (fig. 1), podendo até matar.
Figura 1: Estressores e efeitos do estresse em peixes. Respostas primárias podem evoluir para respostas secundárias e terciárias caso o estressor não seja eliminado (adaptado de Barton, 2002).
Assim como nós mesmo, nossos queridos companheiros também ficam estressados e podem sofrer bastante com as consequências desse mal. Controlar os parâmetros físico-químicos da água do lago, assim como manter um ambiente adequado, é primordial para que nossos peixes tenham uma vida longa, feliz e tranquila. Manter um lago com peixes calmos é muito mais que proporcionar bem-estar para eles, é uma forma de relaxar e mandar para longe o estresse que afeta a nós todos, inclusive nossos amigos aquáticos.
Referências bibliográficas
Barton, B. A. 2002. Stress in fishes: A diversity of responses with particular reference to changes in circulating corticosteroids. Integ. And Comp. Biol. 42: 517-525.
Selye. H. 1973. The evolution of the stress concept. Am. Sci. 61: 692-699.
Edison de Freitas é apaixonado pela água desde que se lembra. Quando tinha 8 anos ganhou seu primeiro aquário e se encantou com “os gordinhos”, como gosta de chamar os kinguios. Depois disso a fascinação se espalhou para outros peixes e demais seres aquáticos. Biólogo formado no litoral, deixou a loucura de São Paulo para viver mais perto dos animais marinhos e dulcícolas. Dedicado ao estudo do comportamento animal, elaborou projetos de pesquisa sobre a comunicação visual de ciclídeos e palestra sobre diversos temas do aquarismo e laguismo.